A leishmaniose canina é uma doença parasitária grave e potencialmente fatal, causada por protozoários do género Leishmania spp.. Em Portugal, a espécie responsável é a Leishmania infantum, e a transmissão ocorre maioritariamente através da picada de um pequeno inseto conhecido como flebótomo (Phlebotomus spp.), que se assemelha a um mosquito.
Trata-se de uma zoonose, ou seja, uma doença que pode ser transmitida dos animais para os seres humanos, e está presente principalmente em regiões tropicais, subtropicais e mediterrânicas. Portugal é um desses países, com especial incidência nas zonas rurais e periurbanas.
Como se transmite a leishmaniose?
A forma principal de transmissão da leishmaniose é vetorial, ou seja, através da picada do flebótomo infetado: o flebótomo pica um cão infetado com Leishmania infantum e ingere o parasita; dentro do organismo do inseto, o parasita sofre transformações e torna-se infetante. Quando esse flebótomo volta a picar, transmite o parasita a outro animal ou ser humano.
Existem outras formas de transmissão?
Sim, embora sejam menos frequentes, existem outras vias de transmissão possíveis:
- Transmissão vertical (de mãe para crias): pode ocorrer durante a gestação, embora seja rara.
- Transfusão de sangue: cães que recebem sangue de um animal infetado podem contrair a doença.
- Ato sexual (possivelmente): já foram relatados alguns casos que levantam essa hipótese, mas ainda é considerada rara.
- Contacto direto entre cães (saliva, feridas): não é uma via comprovada como eficaz, a simples convivência entre cães não garante transmissão. Ou seja, a leishmaniose não se transmite como uma virose ou uma gastroenterite.
Como ocorre a transmissão de cães para humanos?
A transmissão direta de cães para humanos não acontece. O cão atua como reservatório do parasita, mas o ser humano só adquire a infeção se for picado por um flebótomo infetado. Isto significa que o risco para os humanos está relacionado com a presença de flebótomos e a carga parasitária nos cães, não com o convívio direto com os animais.
Como pode prevenir a leishmaniose?
A prevenção é a melhor forma de proteger os cães, e as pessoas, da leishmaniose. As principais medidas incluem:
- Uso de antiparasitários externos com ação repelente (coleiras ou pipetas) com ação comprovada contra flebótomos.
- Vacinação contra a leishmaniose canina, disponível em Portugal e indicada para cães em zonas endémicas.
- Evitar passeios ao amanhecer e anoitecer, quando os flebótomos estão mais ativos.
- Reduzir o acesso dos insetos ao ambiente onde os cães dormem, com redes mosquiteiras e abrigos apropriados.
- Realização de rastreios periódicos e consultas veterinárias regulares, essenciais para a deteção precoce e para discutir o melhor plano de prevenção de acordo com o estilo de vida do animal.
A prevenção é a chave
A leishmaniose pode demorar meses ou até anos a manifestar sintomas visíveis. No entanto, o parasita pode já estar a causar danos nos órgãos internos. Por isso, as consultas veterinárias regulares são fundamentais, não apenas para monitorizar a saúde do animal, mas também para discutir medidas de prevenção, vacinação e diagnóstico precoce.
O papel do médico veterinário é central na luta contra esta doença: orienta, previne e trata, protegendo não só o cão, mas toda a comunidade.
Ana Sofia Carvalho | @anasofia_vet
Veterinaria